ESTUDO LIGA CASO DE COVID A SÍNDROME QUE PARALISOU CORPO DE JOVEM
Imagens do estudo que permitiram associar a infecção pelo novo coronavírus à Síndrome de Guillian-Barré Foto: Divulgação |
A descoberta foi possível após ser colhido material do líquido cefalorraquidiano, o líquor, que apontou um "envolvimento" do SARS-Cov-2 na inflamação dos nervos periféricos da paciente.
"Casos de Guillain-Barré têm sido diagnosticados em pessoas com covid-19, mas o entendimento até o momento é que a patogênese desta condição neurológica, quando associada à infecção pelo novo coronavírus, é apenas imunomediada [mediada por células que regulam o processo inflamatório]. Esta foi a primeira vez em que o material genético do SARS-CoV-2 foi detectado no líquor, indicando um mecanismo de invasão viral direta ao sistema nervoso", explica o pesquisador Paulo Ricardo Martins-Filho, líder do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS (Universidade Federal de Sergipe).
Ao todo, sete pesquisadores assinam o estudo, publicado no "The Pediatric Infectious Disease Journal", um dos mais conceituados periódicos da área. Além da UFS, também participaram da pesquisa cientistas ligados à Universidade Tiradentes e ao Lacen (Laboratório Central) de Sergipe.
"Esse estudo traz informações bastante importantes para que a gente possa compreender a capacidade de neuroinvasividade do SARS-CoV-2 e melhorarmos a forma como os pacientes são tratados", afirma Martins-Filho. Segundo ele, casos de Guillain-Barré estão associados a algumas infecções virais. O problema ficou mais conhecido no país após casos relacionados ao vírus da zika e chikungunya. "Existem evidências hoje de associação entre infecção pelo SARS-CoV-2 e alterações neurológicas e há relatos de Guillain-Barré em pessoas com covid-19", explica.
O caso da jovem
A adolescente que desenvolveu a síndrome teve oito dias de sintomas típicos da covid-19 antes de desenvolver a síndrome, em fevereiro. Por conta da Guillain-Barré, ela ficou 15 dias internada em um hospital de Aracaju.
A médica neurologista e também autora do estudo, Lis Campos, explica que a paciente começou a apresentar dor na região lombar e fraqueza muscular oito dias depois de um quadro de diarreia intensa e febre. "Quando chegou ao hospital, 48 horas depois do início desses sintomas, já estava sem andar", conta. Por conta da pandemia, foi realizado teste para covid-19, com o resultado positivo. "Depois de avaliação neurológica e de exames complementares, foi também confirmado o diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré", completa.
Diante do quadro, ela conta que a equipe optou por realizar uma pesquisa do material genético do vírus também no líquor (líquido que circunda o sistema nervoso central). "Com o resultado positivo, indica que o problema neurológico foi resultado direto da invasão do vírus no sistema nervoso", afirma. Depois do tratamento bem-sucedido, a paciente melhorou da fraqueza e hoje, diz a médica, já consegue andar sem ajuda. "Ela continua em acompanhamento neurológico e fazendo fisioterapia."
Fonte: Uol
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