DE OLHO NOS EUA, BRASILEIROS SE MULTIPLICAM NO MÉXICO

 

Crédito: Reprodução

Enquanto países fecharam suas portas de entrada como única alternativa para mitigar a proliferação da Covid-19, o Ministério das Relações Exteriores registrou um recorde de brasileiros morando fora do país: 4,2 milhões de brasileiros para além de nossas fronteiras, um número que tinha tudo para ser ainda maior se não fossem as sérias limitações de deslocamento internacional impostas pela doença.

Reportagem de VEJA mostra que países como Irlanda, Austrália, Portugal e até o vizinho Uruguai têm ganhado espaço nos planos de quem quer ir embora — o número de brasileiros nestes países mais que dobrou desde 2018. Mesmo com novos destinos, os Estados Unidos ainda são a referência quando se pensa em morar fora. O país abriga a maior comunidade brasileira no exterior, com 1,7 milhão de pessoas atraídas por mais segurança, educação superior de qualidade e salários mais competitivos. 

Entretanto, a atratividade dos EUA gerou um efeito colateral no vizinho México. O país latino é a principal rota terrestre para quem, por falta de informação ou puro desespero, tenta chegar aos Estados Unidos à margem dos rigorosos processos de imigração americanos e com riscos à própria vida. A tragédia mais recente foi a da técnica de enfermagem Lenilda dos Santos, 50, encontrada morta no deserto após ser abandonada pelo grupo com quem tentou atravessar a fronteira. 

Desde 2018, a população de brasileiros triplicou e chegou a 45.000 pessoas — estimativas indicam apenas 15.000 em situação regular. "A maioria dos residentes permanentes e temporários encontra-se, possivelmente, a serviço de empresas multinacionais que atendem ao mercado mexicano e ao mercado dos EUA, além da zona turística da Riviera Maya, que inclui Cancún, Playa del Carmen, Tulum, Cozumel e arredores", afirma o Itamaraty.

O reaquecimento da economia e o pagamento de 1.400 dólares de auxílio emergencial aos americanos criaram uma demanda por mão-de-obra para serviços de baixa qualificação no país (o oposto do que ocorre com os outros destinos que atraem brasileiros), algo que, com a retomada gradual dos voos internacionais só faz aumentar o número de brasileiros que chegam ao país.

A professora Sueli Siqueira, da Universidade do Vale do Rio Doce, de Governador Valadares (MG), um dos polos de exportação de brasileiros, explica que a existência de comunidades já estabelecidas nos EUA com laços no Brasil tem o efeito de estimular a imigração. "Essa rede de contatos acaba encantando as pessoas, que minimizam os riscos e ficam com uma impressão de segurança. Mas a realidade é bem diferente", alerta.

O roteiro dos coiotes, como são conhecidos os atravessadores, que chegam a cobrar 20.000 dólares no pacote de quem quer se aventurar em uma jornada com altas chances de fracasso, inclui entradas via Cidade do México ou Cancún — aqui, o turismo é apenas um álibi para quem quer vencer a primeira barreira dos agentes de fronteira. Calcula-se que um terço dos turistas que entram no país (cerca de 400.000 em 2019, antes da pandemia) viaja com a intenção de se bandear para os Estados Unidos. 

O empresário Nelson Baroni, dono de uma agência de passeios em Cancún, conta que pelo menos uma vez por semana recebe consultas sobre voos para cidades como Ciudad Juárez, Mexicali ou Tijuana, na fronteira com os EUA de onde partem as caravanas de imigrantes. "Eu explico que não trabalho com venda de passagens e digo para procurar as companhias aéreas".

Muito embora a chegada do democrata Joe Biden tenha servido ao “marketing” dessas quadrilhas para atrair vítimas ao esquema de imigração ilegal, nada mudou na prática: os Estados Unidos não só retomaram as deportações em massa por via aérea como a Suprema Corte determinou o restabelecimento da política “Fique no México”, instituída por Donald Trump, em que os imigrantes são devolvidos ao país vizinho e precisam aguardar em território mexicano a improvável decisão sobre um pedido de asilo.



Fonte: Veja

Nenhum comentário