MORTES SEM CAUSA DEFINIDA CRESCERAM 30% NA PANDEMIA
Mortes com causas mal definidas cresceram 30% no Brasil durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19. De acordo com especialistas, a taxa indica uma subnotificação de óbitos pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). As informações são da Folha de S. Paulo.
Dentre os casos mal definidos, estão mortes registradas em casa ou em hospital, sem assistência ou com causa desconhecida. Ao todo, foram 97.436 mortes do tipo em 2020, contra 74.972 em 2019.
Os dados são do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e foram compilados por Fatima Marinho, médica epidemiologista e especialista sênior da Vital Strategies. O levantamento foi fivulgado pela Folha neste sábado (25).
"Geralmente as mortes no domicílio, quando são mal definidas, ocorrem na população mais pobre, que não teve acesso a médico ou estava sem assistência médica nos dias que antecederam o falecimento, não tendo sido possível conhecer a causa da morte sem outras investigações", afirma Marinho, em entrevista à Folha.
Em 2020, 318.172 brasileiros morreram em domícilio, sendo 57.160 óbitos classificados de causa mal definida. Em relação a 2019, o número representa uma alta de 45%. No caso das mortes nessa classificação que ocorreram em hospitais, a alta foi de 19%.
Casos podem ser Covid-19 subnotificada
Segundo o levantamento, muitas dessas mortes não têm causa definida, mas estão documentadas como decorrência de parada cardiorrespiratória, insuficiência respiratória aguda e SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave).
"Só existe uma causa de morte. Eventos como parada cardiorrespiratória, SRAG, insuficiência respiratória são modos de morrer e mecanismos de morte, são consequências da verdadeira causa que levou à morte", diz Marinho. A médica acredita que muitas dessas mortes podem ter sido causadas pela Covid-19, que não foi identificada.
Um outro estudo recente da Vital Strategies mostrou que 94% das mortes sob suspeita de Covid-19 realmente estavam ligadas à doença. Este levantamento foi feito com dados das cidades de Belo Horizonte, Salvador e Natal.
À Folha, a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel disse que a subnotificação é bastante comum em crises sanitárias. "É um problema de qualidade da assistência, do acesso ao serviço de saúde, e também da informação".
IG
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