AMAZÔNIA VIVE AMEAÇA DE SECA RECORDE E NOVA MATANÇA DE BOTOS
Foto: reprodução/ Instituto Mamirauá |
Na orla de Tabatinga (AM), município de 70 mil habitantes situado 1,1 mil quilômetros a oeste de Manaus, o nível do Rio Solimões, que forma o Rio Amazonas, atingiu 1,20 metro negativo em 2 de setembro, superando com folga o mínimo histórico de -0,86m registrado em 2010.
A estiagem já afeta quase 80 mil famílias, segundo o governo do Amazonas, que declarou emergência em todo o estado.
"A esperança é de que, assim como a seca foi antecipada, a cheia também seja, mas os meteorologistas têm sido unânimes em dizer que não há previsão de chuva abundante. A perspectiva, de fato, é de uma seca recorde no Médio Solimões", disse à ANSA Ayan Fleischmann, pesquisador do Instituto Mamirauá.
A instituição atua na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, maior área de várzea amazônica protegida no Brasil, e produz boletins diários sobre o nível das águas na região.
"É um cenário muito preocupante porque já há muitas comunidades ribeirinhas isoladas. Quem está na beira do Solimões consegue sair, mas as comunidades mais para dentro da floresta sofrem muito", salientou Fleischmann.
Além do isolamento de ribeirinhos, a estiagem também ameaça a população de cerca de 900 botos-vermelhos (o senso mais recente é de 2010) no Lago Tefé, onde, no ano passado, 178 exemplares da espécie morreram em função do excesso de calor na água.
O Instituto Mamirauá realizou recentemente uma expedição para instalar microchips em botos, com o objetivo de monitorar seu deslocamento e a temperatura da água, mas o fato é que, se o lago esquentar demais, há pouco a se fazer.
Em 2 de setembro, o nível do Tefé era de 6,35 metros, ainda 1,60m acima do mínimo registrado em 2023 (4,75m), mas a tendência é de queda, e quanto menos água, mais quente ela fica.
Na semana passada, a temperatura no fundo do lago já subiu da média habitual de 30º para 33ºC - em setembro de 2023, os termômetros alcançaram 40,9ºC. "Se chegar a 37ºC, é alerta vermelho. Acima de 39ºC, pode levar botos à morte", afirmou Fleischmann.
Já está em discussão a hipótese de tentar conduzir os botos para partes mais frias do lago, especialmente na conexão com o Rio Solimões. Outra possibilidade é manter equipes in loco para monitorar os mamíferos e fazer eventuais resgates, ação usada apenas em último caso devido ao risco de estressar ainda mais os animais.
"Muitos dos botos que morreram no ano passado chegaram ao ponto de agonia e tiveram um efeito neurológico instantâneo a partir do superaquecimento da água. Eles nadavam girando, sem sair do lugar", contou o pesquisador.
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