FERIADOS EM SÉRIE DEVEM AUMENTAR A ABSTENÇÃO NO SEGUNDO TURNO EM MANAUS

 

FOTO: AGÊNCIA BRASIL

A abstenção no segundo turno da eleição, que naturalmente já é maior, deve crescer ainda mais com o feriadão que começa na quinta-feira, aniversário de Manaus, e vai até segunda, Dia do Servidor Público. O decreto alcança servidores estaduais e municipais. A votação do segundo turno será no domingo, com Alberto Neto (PL) contra David Almeida (Avante). Especialistas ouvidos pela reportagem, porém, discordam sobre se a maior abstenção em razão do feriado pode impactar o pleito significativamente. 

No primeiro turno, 280.136 eleitores manauaras não foram às urnas, representando uma abstenção de 19,37%. Foi a maior ausência em um pleito municipal, em Manaus, desde o início dos anos 2000. Para efeito de comparação, foi maior do que o total de votos recebidos pelo segundo lugar na disputa, Alberto Neto, escolhido por 275.063 eleitores.

A tendência é que esse número seja ainda maior no segundo turno, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi o que aconteceu em 2020. Enquanto na primeira fase daquela eleição, a abstenção foi de 18,23%, no segundo turno cresceu para 22,43%. O mesmo aconteceu em 2016, quando 8,59% dos eleitores não foram às urnas no primeiro turno, contra 9,50% no segundo. Em 2012, o cenário se repetiu: a abstenção foi de 14,59% no primeiro turno e 18,8% no segundo.

“O que acontece muito em Manaus é as pessoas viajarem para sítios, passeios de barco, algum hotel de selva. Não é que tanta gente deixe a cidade, mas vai sair uma quantidade máxima de 15 mil pessoas, por estimativa. A abstenção vai subir, como acontece no segundo turno. Não dá para adivinhar, claro, mas eu diria que entre 20 a 35 mil pessoas deixam de votar”, afirma o publicitário Durango Duarte, CEO da Perspectiva Mercado e Opinião.


 Impacto

 Ele explica que o perfil do eleitor que deixa a cidade é aquele entre a classe média baixa e alta, especialmente quando se considera viagens de avião. “Quem tem dinheiro para viajar? Em tese, aqueles eleitores que são de renda maior e pró-Bolsonaro. Quem tem dinheiro para fazer incursões, ir para seus sítios, hotéis de selva? Classe média e alta. Proporcionalmente, isso tende a ser mais prejudicial à candidatura de Alberto Neto, que é mais bem votado nesse eleitorado”, avalia.

Embora o TSE não tenha divulgado dados de renda dos eleitores em Manaus para 2024, o nível de instrução oferece pistas. A cidade tem 218 mil eleitores com ensino fundamental incompleto, 69 mil com fundamental completo, 263 mil com médio incompleto, 540 mil com médio completo, 136 mil com superior incompleto e 174 mil com superior completo. 

O CEO da Pontual Pesquisas, Eric Barbosa, estima que 30% do eleitorado manauara ganha até dois salários mínimos. Outros 40% estão entre dois a cinco salários. Para ele, o feriadão pode influenciar no aumento da abstenção, com impacto para ambas as candidaturas, em especial a do candidato do PL.

“O atual prefeito tende a ter força eleitoral maior no eleitorado abaixo de 2, 3 salários mínimos. Já Alberto Neto tem maior preferência no eleitorado acima de quatro salários mínimos, então, se esse movimento de viagem dos eleitores realmente acontecer, o impacto maior é para ele, mas o David também terá perdas. É para os dois”, comenta.


 ‘Esse feriadão é só para os servidores públicos’

 O consultor de pesquisas eleitorais e de marketing Gilson Gil avalia que o feriadão deve ter pouco impacto sobre a média de abstenção no pleito. Ele ressalta que o evento beneficia os servidores públicos e não tem interferência no resultado geral.

“Não creio que isso gere um aumento na taxa de abstenção que ultrapasse as médias históricas da cidade. É fim de mês e poucos possuem dinheiro para viagens a outros estados ou ao exterior. Esse feriadão é só para os servidores públicos. O que se poderia especular é sobre o voto do servidor público e qual sua tendência. Mesmo assim, não acredito que isso interfira no resultado geral”, comentou.

Ele explica que a abstenção maior no segundo turno é resultado de uma desmobilização do eleitorado pela redução de opções. “Muita gente fica descontente porque o seu candidato do primeiro turno não foi para o segundo. Se não gostar de nenhum dos dois que ainda disputa a prefeitura, fica desmobilizado e não vota”, diz.


 Variável é o eleitor  ‘invisível’ 

 Uma variável importante, segundo Eric Barbosa, CEO da Pontual Pesquisas, é considerar que as eleições em Manaus têm mostrado uma ‘força invisível’ das candidaturas bolsonaristas. Trata-se daquele eleitor não identificado nas pesquisas, mas que comparece à urna e opta pelo nome ligado a essa corrente ultradireitista. Logo, uma abstenção maior dos eleitores de renda mais alta não necessariamente significa que o candidato do PL chega com menos força à disputa.

“Todos os candidatos bolsonaristas parecem ter uma força invisível que se manifesta no último momento, e uma das grandes questões que poderemos observar no segundo turno é se esse comportamento vai se repetir, como ocorreu no primeiro turno. Se isso acontecer, ficará provado que Manaus é uma cidade com tendência bolsonarista, e nas próximas eleições deverá ser considerado o impacto do eleitor bolsonarista, que muitas vezes não é captado pelas pesquisas”, avaliou.




A CRÍTICA*

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