MULHER TRAVA LUTA CORPORAL E IMPEDE O PRÓPRIO ASSALTO EM MANAUS: “FOI INSTINTO. NÃO FARIA NOVAMENTE”
A vítima (esquerda) conseguiu conter o assaltante Rodrigo Costa de Souza, de 28 anos, até a chegada da polícia (Foto: Nilton Ricardo e Reprodução)
“Peguei ele pelo pescoço e apalpei a cintura para ver se ele estava com uma faca. Quando percebi que ele não estava armado, só fazia deitá-lo no chão para não deixá-lo levantar a moto e fugir.” O relato é de uma técnica de enfermagem que conseguiu impedir o próprio assalto na rua Belarus, bairro Novo Cidade, Zona Norte de Manaus, na noite desta quinta-feira (31). A mulher, que preferiu não se identificar por medo de represálias, conseguiu conter o assaltante Rodrigo Costa de Souza, de 28 anos, até a chegada da polícia.
Técnica de enfermagem e mãe solo de três crianças, ela contou ao A CRÍTICA os detalhes que antecederam o fato até o momento de apreensão na tentativa de assalto.
“Eu saí da drogaria onde trabalho, no Grande Vitória, e fui para a casa de uma amiga para dormir lá. É mais próximo do outro serviço onde trabalho e onde eu deveria estar às 7 horas da manhã. Para eu sair daqui do Zumbi para o Nova Cidade, não ia dar tempo de voltar e chegar a tempo no horário de entrada na drogaria.”
A técnica de enfermagem relata que sua intenção era ir ao supermercado comprar mantimentos para tomar café da manhã na casa de sua amiga no dia seguinte. Como o supermercado fica dentro de um shopping e próximo ao seu local de trabalho, ela optou por seguir o caminho a pé, mesmo já sendo noite.
“Eu estava com a bolsa onde levo os materiais de higiene pessoal e do trabalho e fui andando. Mas eu já tinha o pressentimento de que iria ser assaltada, porque não conheço bem o bairro; só venho ao Nova Cidade para trabalhar e volto. Na rua, havia uma moça que estava retornando da academia, passando na minha frente, então apressei o passo para ficar perto dela. Não estaria mais sozinha; estaria acompanhada. Mas ela parou em uma casa na mesma rua onde eu ia ficar, e eu continuei. Apertei o passo, segurei a bolsa contra o meu corpo e segui. Quando pressenti que seria assaltada, apertei ainda mais a bolsa contra o corpo e apressei o passo", relatou.
Com o pressentimento de que seria assaltada naquela noite, ela foi surpreendida quando o assaltante se aproximou silenciosamente em uma moto e tentou arrancar a bolsa com seus pertences e documentos pessoais.
“Foi quando o rapaz chegou sem fazer barulho nenhum em uma moto e puxou a bolsa. Como estava segurando forte contra o meu corpo, a alça quebrou, ele se desequilibrou e caiu da moto. Se estivesse armado, ele teria parado e pedido para entregar a bolsa, mas não foi o que ocorreu. Logo pensei que ele não estaria armado; o máximo que poderia ter era uma faca na cintura. Peguei ele pelo pescoço e apalpei a cintura dele para ver se ele estava com uma faca. Como percebi que não estava armado, só fazia deitá-lo no chão para não deixá-lo levantar a moto e fugir. O tempo todo eu lutava para deitá-lo no chão, para deitar a moto no chão e evitar que ele levasse as minhas coisas.”
Após imobilizar o assaltante, os moradores ouviram seus gritos de socorro e foram ajudá-la a contê-lo até a chegada da polícia, que efetuou a prisão e o conduziu para a Central de Flagrantes no 6° Distrito Integrado de Polícia, na Cidade Nova.
“Eu não pensei em reagir. Foi instinto mesmo, foi revolta. Mas eu aconselho as pessoas a não fazerem o que eu fiz, porque eu não faria isso novamente, pois tenho três filhos. Eu reagi a um assalto assim, contando com a sorte. Porque foi contar com a sorte mesmo, foi Deus mesmo”, finalizou a vítima do assalto.
Apesar do susto, a vítima conseguiu sair sã e salva do assalto frustrando, conseguindo manter também os seus bens (Foto: Nilton Ricardo)
O que recomendam as autoridades
Em entrevista ao A CRÍTICA, João Tayah, Delegado de Polícia e Professor de Direito, explicou sobre os procedimentos e protocolos utilizados pela Polícia Civil e Militar, além de recomendações à população para que não reaja a assaltos, preservando a segurança e a vida da vítima.
“A recomendação principal é sempre não reagir. Sobretudo se a vítima não tem conhecimentos apropriados sobre autodefesa, técnicas de luta corporal ou sobre como reagir em situações de perigo. Reagir pode acabar gerando uma situação de maior risco à vítima, já que o assaltante é sempre o criminoso que tem muito menos a perder do que a vítima, que geralmente é um pai de família, é um trabalhador e tem muito a perder em situações como essa”, alertou Tayah.
Em casos como o ocorrido com a técnica de enfermagem na noite desta quinta-feira (31) no bairro Nova Cidade, o delegado instrui sobre como a população deve agir caso o criminoso seja contido.
“Caso a vítima consiga conter o criminoso, é sempre bom pedir ajuda de mais pessoas para poder fazer a guarda, manter a situação de flagrante do agente criminoso, acionar o 190 ou a Sicom do bairro para que a Polícia Militar possa fazer a condução do criminoso até a delegacia de polícia para a abertura do auto de prisão em flagrante delito. E as pessoas que estão no entorno também devem comparecer, seja para prestarem esclarecimento como vítimas, seja como testemunhas”, explica.
Linchamentos
Em muitas ocorrências em que os assaltantes não têm sucesso no ato delituoso e são contidos pela própria população, acabam sendo linchados, configurando crime de acordo com o Código Penal Brasileiro. Acerca disso, o Delegado Tayah fez um alerta:
“Quando a população comete crimes contra o próprio criminoso, corre o risco de, assim como o criminoso, sujeitar-se às penas previstas na legislação. Então, o linchamento pode gerar responsabilização criminal de pessoas que muitas vezes não são criminosos habituais. Por isso, é uma conduta que deve ser altamente evitada e tida como muito reprovável”.
O delegado fez um apelo à população para que evitem reagir a assaltos, destacando o risco à vida e à integridade física, além de reforçar a importância da colaboração com os órgãos de segurança pública nesses casos.
“Em casos de assalto, sempre evite reagir. Busque a delegacia mais próxima, quando for vítima de um crime, e informe os objetos que foram subtraídos, a fim de subsidiar o trabalho investigativo da delegacia de polícia para que os objetos sejam recuperados”, finalizou o delegado.
Técnica de enfermagem e mãe solo de três crianças, ela contou ao A CRÍTICA os detalhes que antecederam o fato até o momento de apreensão na tentativa de assalto.
“Eu saí da drogaria onde trabalho, no Grande Vitória, e fui para a casa de uma amiga para dormir lá. É mais próximo do outro serviço onde trabalho e onde eu deveria estar às 7 horas da manhã. Para eu sair daqui do Zumbi para o Nova Cidade, não ia dar tempo de voltar e chegar a tempo no horário de entrada na drogaria.”
A técnica de enfermagem relata que sua intenção era ir ao supermercado comprar mantimentos para tomar café da manhã na casa de sua amiga no dia seguinte. Como o supermercado fica dentro de um shopping e próximo ao seu local de trabalho, ela optou por seguir o caminho a pé, mesmo já sendo noite.
“Eu estava com a bolsa onde levo os materiais de higiene pessoal e do trabalho e fui andando. Mas eu já tinha o pressentimento de que iria ser assaltada, porque não conheço bem o bairro; só venho ao Nova Cidade para trabalhar e volto. Na rua, havia uma moça que estava retornando da academia, passando na minha frente, então apressei o passo para ficar perto dela. Não estaria mais sozinha; estaria acompanhada. Mas ela parou em uma casa na mesma rua onde eu ia ficar, e eu continuei. Apertei o passo, segurei a bolsa contra o meu corpo e segui. Quando pressenti que seria assaltada, apertei ainda mais a bolsa contra o corpo e apressei o passo", relatou.
Com o pressentimento de que seria assaltada naquela noite, ela foi surpreendida quando o assaltante se aproximou silenciosamente em uma moto e tentou arrancar a bolsa com seus pertences e documentos pessoais.
“Foi quando o rapaz chegou sem fazer barulho nenhum em uma moto e puxou a bolsa. Como estava segurando forte contra o meu corpo, a alça quebrou, ele se desequilibrou e caiu da moto. Se estivesse armado, ele teria parado e pedido para entregar a bolsa, mas não foi o que ocorreu. Logo pensei que ele não estaria armado; o máximo que poderia ter era uma faca na cintura. Peguei ele pelo pescoço e apalpei a cintura dele para ver se ele estava com uma faca. Como percebi que não estava armado, só fazia deitá-lo no chão para não deixá-lo levantar a moto e fugir. O tempo todo eu lutava para deitá-lo no chão, para deitar a moto no chão e evitar que ele levasse as minhas coisas.”
Após imobilizar o assaltante, os moradores ouviram seus gritos de socorro e foram ajudá-la a contê-lo até a chegada da polícia, que efetuou a prisão e o conduziu para a Central de Flagrantes no 6° Distrito Integrado de Polícia, na Cidade Nova.
“Eu não pensei em reagir. Foi instinto mesmo, foi revolta. Mas eu aconselho as pessoas a não fazerem o que eu fiz, porque eu não faria isso novamente, pois tenho três filhos. Eu reagi a um assalto assim, contando com a sorte. Porque foi contar com a sorte mesmo, foi Deus mesmo”, finalizou a vítima do assalto.
Apesar do susto, a vítima conseguiu sair sã e salva do assalto frustrando, conseguindo manter também os seus bens (Foto: Nilton Ricardo)
O que recomendam as autoridades
Em entrevista ao A CRÍTICA, João Tayah, Delegado de Polícia e Professor de Direito, explicou sobre os procedimentos e protocolos utilizados pela Polícia Civil e Militar, além de recomendações à população para que não reaja a assaltos, preservando a segurança e a vida da vítima.
“A recomendação principal é sempre não reagir. Sobretudo se a vítima não tem conhecimentos apropriados sobre autodefesa, técnicas de luta corporal ou sobre como reagir em situações de perigo. Reagir pode acabar gerando uma situação de maior risco à vítima, já que o assaltante é sempre o criminoso que tem muito menos a perder do que a vítima, que geralmente é um pai de família, é um trabalhador e tem muito a perder em situações como essa”, alertou Tayah.
Em casos como o ocorrido com a técnica de enfermagem na noite desta quinta-feira (31) no bairro Nova Cidade, o delegado instrui sobre como a população deve agir caso o criminoso seja contido.
“Caso a vítima consiga conter o criminoso, é sempre bom pedir ajuda de mais pessoas para poder fazer a guarda, manter a situação de flagrante do agente criminoso, acionar o 190 ou a Sicom do bairro para que a Polícia Militar possa fazer a condução do criminoso até a delegacia de polícia para a abertura do auto de prisão em flagrante delito. E as pessoas que estão no entorno também devem comparecer, seja para prestarem esclarecimento como vítimas, seja como testemunhas”, explica.
Linchamentos
Em muitas ocorrências em que os assaltantes não têm sucesso no ato delituoso e são contidos pela própria população, acabam sendo linchados, configurando crime de acordo com o Código Penal Brasileiro. Acerca disso, o Delegado Tayah fez um alerta:
“Quando a população comete crimes contra o próprio criminoso, corre o risco de, assim como o criminoso, sujeitar-se às penas previstas na legislação. Então, o linchamento pode gerar responsabilização criminal de pessoas que muitas vezes não são criminosos habituais. Por isso, é uma conduta que deve ser altamente evitada e tida como muito reprovável”.
O delegado fez um apelo à população para que evitem reagir a assaltos, destacando o risco à vida e à integridade física, além de reforçar a importância da colaboração com os órgãos de segurança pública nesses casos.
“Em casos de assalto, sempre evite reagir. Busque a delegacia mais próxima, quando for vítima de um crime, e informe os objetos que foram subtraídos, a fim de subsidiar o trabalho investigativo da delegacia de polícia para que os objetos sejam recuperados”, finalizou o delegado.
A CRÍTICA*
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