PESQUISADORES BRASILEIROS DESENVOLVEM VACINA CONTRA O CÂNCER

Foto: Girlene Medeiros/FVS-RCP

Pesquisadores brasileiros desenvolveram uma vacina terapêutica contra o câncer de próstata que acaba de receber aprovação para estudos clínicos da FDA, órgão regulador dos Estados Unidos. É a primeira vez que uma tecnologia desse tipo atinge essa etapa. Criada a partir das células tumorais do próprio paciente, a vacina fortalece o sistema imunológico contra o câncer, reduzindo as chances de reincidência e complementando os tratamentos convencionais. Dados preliminares indicam que essa imunoterapia personalizada reduz a recorrência da doença de 37% para 12%, enquanto a taxa de mortalidade caiu de 12,8% para 4,3%.

Na última terça-feira (29), o primeiro paciente americano iniciou o tratamento, parte de um estudo adaptativo de fase 2 que envolve 21 centros de pesquisa nos EUA e deve durar até 22 meses. Espera-se que os dados iniciais da resposta imunológica estejam disponíveis em cerca de 90 dias. Segundo Fernando Thomé Kreutz, médico e cientista à frente da pesquisa, os testes em brasileiros já mostraram impacto positivo na redução de recorrências e mortalidade. A eficácia precisa ser confirmada em 230 pacientes nos EUA para que a imunoterapia esteja disponível no país. No Brasil, a equipe busca a aprovação da Anvisa. Kreutz afirma que a imunoterapia poderia gerar uma economia significativa para sistemas de saúde ao evitar novos tratamentos para recorrências. “O tratamento tradicional custa ao SUS cerca de R$ 2,4 milhões por paciente, o que limita o acesso a terapias inovadoras. Nossa abordagem pode eliminar a necessidade de tratamentos subsequentes e caros”, observa.

Chamada FK-PC101, a tecnologia utiliza células tumorais do próprio paciente para criar células apresentadoras de tumor (TPCs), que desencadeiam uma resposta imune específica contra o câncer. “Os dados mostram que a vacina reduz pela metade a chance de recorrência do câncer”, diz Kreutz, destacando que a vacina proporciona ao menos dois anos sem reincidência da doença. A equipe brasileira já planeja expandir a tecnologia para outros tipos de tumores, como gastrointestinais e pulmonares, que também apresentam altas taxas de mortalidade, sob a coordenação do médico Alberto Stein. Segundo Stein, é possível que o Brasil aprove o tratamento antes dos EUA, o que seria um marco para a saúde nacional.

De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), um em cada oito homens será diagnosticado com câncer de próstata durante a vida, sendo o risco maior para homens negros. É a segunda maior causa de morte por câncer em homens, atrás apenas do câncer de pulmão. Apesar dos avanços na taxa de mortalidade nas últimas décadas, o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento ainda são limitados em algumas regiões. O urologista Stênio de Cássio Zequi, do Hospital AC Camargo, afirma que a imunoterapia atualmente beneficia menos de 5% dos pacientes com câncer de próstata e que ampliar o acesso aos tratamentos convencionais traria um impacto mais significativo. A imunoterapia, que estimula o sistema imunológico a combater o câncer, pode ser ativa, com vacinas e substâncias que fortalecem as defesas naturais, ou passiva, usando anticorpos e células externas para atacar tumores. Embora promissora, a técnica ainda requer mais estudos para garantir eficácia e segurança.

Dados do Inca estimam 71.730 novos casos de câncer de próstata por ano no Brasil entre 2023 e 2025, um aumento de 8% em relação ao triênio anterior. A doença representa cerca de 10% dos tumores malignos no país, com a maior incidência no Sudeste (77,89 casos por 100 mil homens) e a menor no Norte (28,4 por 100 mil). Globalmente, o câncer de próstata é responsável por mais de 1,4 milhão de diagnósticos anuais, segundo a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da OMS, com o Brasil ocupando a quarta posição em número de casos, atrás de Estados Unidos, China e Japão. A doença causa 375 mil mortes por ano no mundo.



*FONTE: PORTAL TUCUMà

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